quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A TECNOLOGIA DO STUZZICADENTI

Que os cocanheses (nativos da Terra da Cocanha) obram milagres na Nanetecnologia é fato alargado no mundo inteiro. Entre incontáveis maravilhas já catalogadas por nossos pesquisadores, relatamos hoje a invenção do Palito de Dentes Nanetech, que se operou, segundo uns, por fruto do acaso, mas, conforme outros, por providência divina.
O primeiro palito de dentes da história da humanidade foi usado pelos ancestrais paphlagônios que habitavam as escuras cavernas da costa do Mediterrâneo, ainda antes da descoberta do fogo. Esses cavernídeos utilizavam garras de animais, espinhaços de peixes, pêlos de porcos e outros objetos pontiagudos para extrair as sobras de carne de perdiz alojadas entre os dentes, porque a etiqueta primitiva já proibia que se fizessem ruidosos movimentos de sucção (schhiiisch!... ou pfi!pfi!pfi!...).
Na Era della Pietra Lascata, os artesãos paphlagônios tentavam lascar pedras, para que ganhassem a forma de gravetos que pudessem ser usados na profilaxia dental. Na Era della Pietra Polita, as lascas de pedra eram cuidadosamente lixadas, mas a relação custo + tempo + benefício tornava inviável o uso dos “pedritos” como dentifrício interdental (os dentes apodreciam e caíam antes mesmo que alguém pudesse assenhorar-se de um “pedrito”). Conhecida, em razão disso, como “Civilização dos Banguelas”, os paphlagônios desenvolveram o mingauzinho de polenta, cujo consumo não exigia uso dos dentes (além de que todas as espécies ovíparas já haviam sido extintas).
Com a migração em massa dos paphlagônios para a Terra da Cocanha, na Era dos Milhonis Granulorum Moídos nel Piloni et Mangiatto cun Molhus de Perdigonis, teve início a até hoje reconhecida pesquisa científica para o desenvolvimento dos palitos de dentes. A abundância de aves silvestres na dieta cocanhesa exigia uma tecnologia para limpeza dental.
Os palitos pioneiros vinham em forma de rústico graveto pontiagudo acoplado no cabo da méscola de mexer polenta e era de uso coletivo, começando pelo patriarca e terminando nos bambini (as mulheres não tinham direito a “espalitar” os dentes). Operação excessivamente demorada, os nanetecnólogos tentaram então desenvolver “méscolitos” individuais, um investimento de saída malfadado, porque a tradição econômica cocanhesa não suportava tais luxos materiais.
É provável que neste ponto dos acontecimentos termine a História e comecem as especulações míticas. Conta-se que os palitos individualizados foram descobertos pela Nona do Nane Tamanca, mas coube a este último a sua produção e comercialização em larga escala. Depois de espatifar a méscola na cabeça do Nono, que safadamente ergueu a saia da Nona enquanto esta mourejava na panela de polenta, inúmeros gravetos foram encontrados no guisado polentáceo durante o filó noturno.
Deslumbrado, o Nane Tamanca patenteou a descoberta e passou a quebrar méscolas para fabricar os tais “méscolitos” de segunda geração. O problema maior residia na contratação de funcionários dispostos a dar sua cabeça às pancadas (da Nona, obviamente, pois só ela conhecia a técnica da batida certeira), além de que o Sindicato Comunista exigia indenizações milionárias para operários com traumatismo craniano. Essa técnica de produção nanefiatiana teve vida curta, mas contribuiu para a pesquisa do palito de dentes e foi definitiva para a fixação de um novo e apreciado ditado cocanhês: “Cada cabeça uma méscola!”

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