segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O McNONA'S DA TERRA DA COCANHA

Nov0 empreendimento gastronômico da Terra da Cocanha
Na praça de alimentação do Iguatemilho da Terra da Cocanha, já é possível degustar as delícias tradicionais preparadas pelas Nonas cocanhesas. O empreendimento gastronômico conta com os seguintes serviços e benfeitorias:
1) estacionamento gratuito para vans, ônibus e carroças;
2) amplo pavilhão com mesas gigantes para acomodar as famílias;
3) caderninho "do fiado" para pendurar a conta (com consulta ao SPC - Serviços da Polenta Cocanhesa);
4) área infanto-pedagógica com sabugos, monjolos e tachinhos de preparar polenta;
5) variados pratos feitos com polenta: milhoburguer, cheese polenta, polenta brustolada, polenta mole com molho, polentinha frita etc.;
6) brindes de Kindermilho para as crianças.
A idéia do negócio nasceu da indignação das Nonas com o trabalho suado e gratuito de receberem filhos, netos e bisnetos em suas casas, todos os dias, para almoçar e jantar. "A zente lavorava, lavorava e nom via un fiorim pra azudar con as despensa di casa. Era come si a zente fosse escrava degla famiglia: cosinhare, limpare e niente mais! Agora noi tuti temo nostri fiorim na poupança! Si querem manjare aqüi na nostra casa, que mostrem a cor do fiorim!" - afirma nona Crossefissa Polentori, uma das sócio-empreendedoras do McNona's.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O KINDERMILHO

Um milharal com objetos lúdicos para os bambinos

Na Terra da Cocanha, amparados por teorias pedagógicas do tempo da Paphlagônia antiga, os pais incentivam a participação dos bambinos nas atividades cotidianas, a fim de que herdem um dos seus mais nobres valores culturais: o trabalho. Para tal, costumam inventar atividades e adaptar objetos às brincadeiras infantis, conforme se vê na imagem supra: um milharal com Kindermilhos. A laboriosa brincadeira consiste em ver quem consegue colher o maior número de espigas e descobrir o que esconde cada um dos Kindermilhos. Embora sejam espigas comuns, que guardam meros sabugos em seu âmago, as crianças participam ativamente destes certames educativo-produtivos, porque sonham ter, um dia, suas próprias cocanhas.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DECLARAÇÃO DE ESTADO DE MÍSERI

Filó do Concílio Naneditorial na propriedade do Sr. Capeletti
Declaração de Estado de Míseri

JOANIM PEPPERONI, PhD, cocanhês naturalizado, casado, etnoantropolentopiadista, inscrito no Cuccagna Persona Fodida (CPF) sob o nº 1.875, residente e domiciliado no Observatório Colonial, 4° andar, Polentawood, Terra da Cocanha, desejando obter os benefícios do “Filó Gratuito”, declara, sob as penas da lei, que não possui recursos suficientes para custear qualquer demanda, sem prejuízo do sustento próprio e da família, pelo que, nos termos da Lei nº 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, faz jus aos benefícios da gratuidade da polenta e do vinho consumidos na propriedade do Sr. Christosphoro Capeletti, no dia e ano da graça do Nosso Senhor Porco Dio.

Polentawood, Anno Domini MMIX

Joanim Pepperoni
JOANIM PEPPERONI, PhD

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A FIXAÇÃO ARQUITETÔNICA

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"Caro Dr. Joanim,

No último dia 21/11, antropoambulando pela região cocanhesa do rio do Prato (antigamente chamado rio do Prato de Polenta), descobri mais um típico cocanhismo arquitetônico.
Estava eu cumprindo meu trabalho de antropolentólogo na província de Novo Prato (ex-Cidade do Prato de Polenta), quando, em meio a uns e outros milharais, deparei-me com a construção abaixo [supra], que deixou-me deveras assombrado, pois pensei incontinenti tratar-se de resquício de alguma civilização pré-extermínio das perdizes, quiçá pré-paphalgônica. Tal descoberta, já pensava eu com meus grãos de milho, poria em xeque toda histomilhografia da Terra da Cocanha. Seriam os cocanheses um povo autóctone, que se apropriou de, ou a quem foi imposta uma cultura imigrante? Seria a polenta uma iguaria da época das cavernas? Seriam os cocanheses astronautas?
Pois tratava-se de um moinho! Um moinho em perfeito estado de apodrecimento, com no mínimo duzentos anos de instalação, movido a água (uma azenha, portanto), e recém-superado pelo incansável ritmo de avanço da nanetecnologia, tanto que estava abandonado.
Atarantado e a fim de obter informações pormenorizadas sobre aquela descoberta que ultrapassava a importância antropolentológica, que chegava às raias da arqueopolentologia, fui ao encontro do proprietário daquela débil porção de terra montanhosa e basáltica, o que não me consumiu mais do que dez minutos barranco acima: logo encontrei um legítimo exemplar do espécimen Nane Tamanca. Travando cuidadoso diálogo, procurando ganhar sua confiança mediante emprego de blasfêmias e de palavras do dialeto cocanhês em bom tom de voz, fui aos poucos entendendo a sagacidade arquetípica dos empreendedores cocanheses.
É certo que poderia ter entendido antes, não fosse a empolgação que invadiu meu espírito diante da exótica construção, quando não percebi que alguns polenturistas fotografavam-se em frente ao moinho, fazendo poses de arqueólogos deslumbrados. Depois me dei conta do que aquele Nane tentava inútil e grosseiramente me explicar: na verdade, o moinho era novinho em folha (!), tendo recebido ares de antiguidade justamente para atrair a atenção de otários como eu e como aqueles estrangeiros que lá se retratavam. A propriedade do vizinho, descobri, abrigava um hotel que tentava reproduzir em seu interior o que, segundo eles mesmos, havia na Paphlagônia perdida, e o Nane dono da azenha não perdeu tempo: ergueu seu pequeno monumento a um passado suposto, para não dizer desconhecido, e agora agencia, em parceria com o hotel, visitas guiadas (e muito bem pagas!) ao local...
Veja a imagem no saco do e-milho.

Uno saluto,
Dr. Christophoro Capeletti, PhD
Direto da Província de Novo Prato"

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SANCTUS COR POLENTARUM II

I.

II.



III.
Imagens inéditas do Sanctus Cor Polentarum, que se encontravam em poder da CIAO! (confiscadas durante a Operação Sagrada Polenta, no século XV) e astuciosamente obtidas pelo nosso camarada Septimo Reprobo Papastrel (durante sua permanência de um mês nos calabouços da CIAO! para tortura e interrogatórios acerca da participação subversiva em nosso Portal da Polenta).
A Ciência, mas uma vez, triunfa!


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O SANCTUS COR POLENTARUM

Cópia mimilhografa do original do "Sanctus Cor Polentarum"

Publicamos a seguir a tradução de um documento inédito, desenterrado e traduzido por nosso bravo colega, o Dr. Septimo Reprobo Papastrel, que se encontra atualmente escavando um sítio arquipolentológico nas cercanias do Além-tegão:

"Após acirrada investigação, deparei-me com uma achado mantido sob vigilância constante pelos atentos olhares dos curas cocanheses: o Sanctus Cor Polentarum.
Livro de cunho teogônico, sapiencial e profético, o Sagrado Coração da Polenta é mantido apenas ao alcance da mais alta e capacitada estirpe teologal, a qual manuseia a obra num rito singular: Arquimandritas, Presbíteros e Monsenhores, durante o culto, postam-se de costas aos fervorosos sectários e lêem o Sanctus, conclamando a massa a entoar frases de pia concordância.
Transcrevo a seguir alguns trechos do primeiro livro do Sanctus, de grande valor teogônico e histórico. Ressalte-se que se trata de tradução rudimentar, uma vez que o manuscrito original apresenta termos do polentim vulgar imiscuídos de expressões diamilhetais (as partes entre cochetes devem ser entoadas coletivamente no culto).

Alguns versículi do Cap.5 - perícope "Sois uno povo"

3. e do milho de Paphlagonia colhidos, fostes semente lançadas à nova terra.
[pela graça do Signore]

7. como as gentes de Nane, os filhos de Bepi e os parentes de Gigio
[somos todos grãos da mesma espiga]

38. Por quarenta meses longa travessia sobre as águas liderou Nane, das naus o piloto.

41. e para não padecerem da fome e escorbuto, o Signore mandou codornizes e laranzas-do-céu.
[e fez-se a passarinhada]


Versículi do cap. 3 - perícope "Tomai posse, ó cocanheses"

2. As pias gentes na nova terra chegando encontraram soberba raça de gigantes opulentos, reis das pinhas, da grei das Araucárias, da famiglia do Mato.

4. Feroz batalha seguiu: santos machados de ferro fendiam os gigantes, que oprimiam os filhos de Nane com cruéis bochadas vindas de seus mil braços

12. Longo baracón erguido, empoleirados como felizes pombas, as gentes de Nane, Gigio e Luchiano louvavam seus potentes machados.
E tal orgulho desagradou o Signore e fez-se fome entre as gentes cocanhesas.


Versículi do cap.4 - perícope "O sonho d'oro de Joanin Coloni"

1. E sucedeu que nos dias da fome, quando acabadas estavam todas as aves,
veio um sonho a Joanin Coloni

6. e Coloni, dando graças a dio, colheu a espiga

17. e as espigas de Coloni tinham 2 côvados de altura

20. e Ubertini, sumo-sacerdote dos filhos de Cristóforo, abençoou o pau da polenta e a caçarola de Coloni

25. e havendo semeado e colhido e moído o bem-aventurado milho, Joanin o ferveu nas águas lustrais e o Polentum esteve com ele
[e ele está no meio de nós]

Nota: E aqui termina o que nos foi possível conhecer do Sanctus Cor Polentarum."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

NO MEIO DA ESPIGA














No meio da espiga
No meio da espiga tinha um sabugo
tinha um sabugo no meio da espiga
tinha um sabugo
no meio da espiga tinha um sabugo.
Nunca me olvidarei dessa descoberta
na vida de minhas espigas tão cultivadas.
Nunca me olvidarei que no meio da espiga
tinha um sabugo
tinha um sabugo no meio da espiga
no meio da espiga tinha um sabugo.
Joanim Pepperoni, PHd

terça-feira, 17 de novembro de 2009

CANTIGAS DA TERRA DA COCANHA

Esta cantiga foi resgatada pelo nosso ínclito folclorista, o Dr. Christóphoro Capeletti, Phd em folclore cocanhês, e traduzida pelo Especialista em dialeto Polentaliàn, o igualmente enclítico Dr. Jerico Pissacàn, Phd. A partitura foi elaborada pelo nosso elíptico Maestro Septimo Reprobo Papastrel, que costuma animar os inúmeros filós da Terra da Cocanha.
Em razão do rudimentar estágio musical dos cocanheses, esta canção costuma ser acompanhada por instrumentos típicos oriundos do cotidiano, como colheres de pau, panelas, socadores de pilão, tachos, chocalhos de milho, porongos, latas de querosene, baquetas de sabugo etc.
Segue a letra para o deleite dos poetas:
Se a polenta, se a polenta fosse minha,
eu mandava, eu mandava brustolar,
com rodelas, com rodelas de salame,
só pro meu, só pro meu amor provar.

Nesta rua, nesta rua há’um moinho
que tritura, que tritura muitos grãos;
dentro dele, dentro dele mora o Nane
que roubou, que roubou meu polentão.

Se eu roubei, se eu roubei tua polenta,
tu roubaste, tu roubaste o meu pilão;
só roubei, só roubei tua polenta
porque tu, tu roubaste o meu pilão.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O POLENTISMO UTÓPICO DE STRUMELLO

Karl Marx [ou Mássimo Strumello] na intimidade


A pedido do Kamerad Giácomo da Silva Bavaresco, publico a seguir uma reflexão sobre O Polentismo Utópico, lavrada por seu próprio punho e enviada por E-MILHO a esta democrática Tábua da Polenta. O ínclito Kamerad solicita, outrossim, que não se considerem alguns comentários direito-extremistas postados neste Portal, supostamente atribuídos a sua rubrica e que geraram um certo furor ulterino em alguns leitores. O Kamerad Bavaresco explica que esse estratagema é comum entre agentes da CIAO!, para difamar e em seguida perseguir e torturar intelectuais subversivos...

Estimados amigos,

Escrevia Karl Marx, cujo verdadeiro nome era Mássimo Strumello: "A história de toda sociedade até hoje é a história da luta da polenta" (Manifesto do Partido Polentista. Moscou: Editora do Frei, 1868). Falta às discussões sobre a Cocanha a força da análise marquecista, procurando entender: 1) As condições concretas de produção da polenta; 2) O papel histórico do polentariado como sujeito da revolução, que erradicará a propriedade privada dos meios de produção da polenta extinguindo a apropriação da "mais-polenta" relativa, que é o excedente produzido pelas mãos do polentariado e apropriado pela polentesia, a classe dos proprietários. 3) Que a luta entre o polentariado e a polentesia levará a uma sociedade mais justa: SABUGOS PARA O POVO

Strumello, a.k.a Karl Marx, era um judeu-vêneto convertido ao polentatismo, uma corrente da reforma do paiol que não entrou para a história. Anos depois, rompeu com sua fé religiosa e juntou-se a Rocco Bienamonte, verdadeiro nome de Fredrick Engels, e ambos transformaram as lutas polentais, que antes se orientavam pelo "polentismo utópico" e, após a obra dos grandes pensadores, transformou-se em "polentismo científico". Enfim, espero poder estar contribuindo para estarmos pensando a nível de práquicis teórica uma nova abordagem das contradições inerentes ao injusto sistema polentalista.

Saudações revolucionárias, todo poder às linhas e travessões!!! Solicito também que vocês estejam enviando minha mensagem a nível de outros missivistas, da mesma forma que peço a nível de contribuição que estejam me passando os endereços dos demais camaradas para que possamos estar discutindo questões fulcrais.

Camarada Giácomo da Silva Bavaresco

domingo, 8 de novembro de 2009

DESCOBERTO O MAPA DA PAPHLAGÔNIA!

[clique no mapa para ampliá-lo]

Prezados leitores:
A descoberta do mapa da antiga Paphlagônia constitui um divisor de águas na historiografia cocanhesa, um fato que com certeza renderá alguns nobéis ao nosso grupo de pesquisadores!..
Com a localização exata da Paphlagônia, é muito provável que, doravante, os cocanheses passem a fazer peregrinações até o local, a fim de rever suas paisagens edênicas, envolver-se em sua atmosfera mítica, reencontrar antepassados perdidos, reclamar lotes nas heranças, procurar documentos para uma dupla cidadania...
Que o Deus do Milho, da Polenta e do Sabugo os acompanhe nesta épica jornada umbilical!

sábado, 31 de outubro de 2009

PRÊMIO NOBEL DA TERRA DA COCANHA

O prêmio à Ciência


Durante uma excursão a uma das províncias da Terra da Cocanha – Bentopolentópolis –, fui subjugado pela natureza. Meu intestino revoltou-se contra o almoço e reclamava, por força, sair-me pela culatra. Parei num posto de combustíveis e com a urgência das coisas improteláveis fui-me aos pés...
Aliviado e de novo de bem com a vida, decidi abastecer o “auto” (expressão usual entre os cocanheses para se referirem ao veículo de passeio). Enquanto aguardava a autorização do crédito, o balconista depositou um pacote dourado bem embaixo do meu nariz. Tomei ciência do conteúdo, mas ignorei o significado do gesto. Em seguida, devolveu meu cartão e foi dizendo que o embrulho vinha a ser “o brinde” correspondente à promoção dos 30 litros de combustível...
Pensei em recusar, com veemência, a oferta, porque a julguei ofensiva. Confundiam-me com algum cocanhês esfaimado? Zombavam do meu porte nobre e sisudo? Olhei em torno, desconfiado que os outros clientes estivessem mangando comigo... Meu intestino, ainda sensível, também se revoltou ante a visão infernal daquela violência simbólica e pôs-se mais uma vez em pé-de-guerra dentro do abdome.
Súbito, porém, tive uma grande iluminação: eu era um estudioso, um cientista renomado e não podia recusar que me presenteassem exatamente com aquilo que constituía meu objeto de estudos. Procurei, então, dar ares de solenidade ao acontecimento, porque não se tratava mais de um mero brinde a um dos incontáveis clientes, mas uma espécie de Prêmio Nobel oferecido a um insigne investigador. O atendente, no entanto, tratou-me com o inconfundível humour dos cocanheses e deu-me as costas.
As minhas vísceras, ultrajadas com aquilo tudo, clamavam pela libertação e me fizeram outra vez oscilar entre a aceitação e a rejeição ao embrulho. Entretanto, a Ciência falou mais alto que a Natureza: agarrei o meu quilo de “polenta pronta” e desandei na direção da latrina!...

PS: Ocorre-me, agora, que poderia ter dado uma sugestão ao gerente do estabelecimento, para completar o que um publicitário deixou pela metade: se o cliente abastecer 30 litros de combustível, ganha uma polenta; se trocar o óleo, leva também a perdiz...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ANÚNCIO DE EMPREGO

Empregado da IPCP cumprindo seu dever

A seguir, transcrevo um anúncio de emprego que encontrei nos classificados do principal jornal da Terra da Cocanha, O POLENTEIRO. Em vista da clareza do texto, eximo-me de qulquer comentário ou interpretação (aprendi com os cocanheses que não se mexe mais a polenta depois de pronta...).

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"A Indústria de Polenta Congelada no Palito (IPCP) procura profissionais para atuar em suas fábricas, conforme as seguintes exigências:
1) gostar de polenta
2) ter ascendência cocanhesa
3) falar e escrever cocanhês ou polentaliàn
4) usar tamancas ou botinas de sete-léguas
5) ter condução própria
6) concordar com o batismo semanal na farinha de milho
7) não conhecer nenhum meirinho, advogado ou juiz
8) estar em dia com a mensalidade da igreja
9) participar de algum coral ou grupo de danças folclóricas cocanhesas
10) ter dois anos de experiência em organização de filós
11) comprometer-se a atribuir as melhores notas nas pesquisas de satisfação sobre o trabalho na empresa, elaboradas pelo POLENTARY local
12) comprometer-se a sempre falar bem da empresa à comunidade, mas em contrapartida criticar a concorrência
13) nunca reclamar do salário, não fazer greve nem associar-se ao Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Polenta (aqueles comunistas!)
14) concordar com os métodos de refinamento da farinha de milho integral
15) não revelar, nem sob tortura, a receita de polenta utilizada pela empresa
16) ter habilidade inata para o manuseio do pilão e dos paus de polenta
17) demonstrar a mesma pujança dos cocanheses pioneiros
18) participar dos certames esportivos, palestras motivacionais, gincanas e concursos temáticos (sobre a polenta) organizados pela empresa nos finais de semana
19) demonstrar amor pela empresa e pelo trabalho
20) rejeitar sempre qualquer oferta de suborno, promoção ou gratificação
21) saber interpretar a canção “La bella polenta”
Os interessados em trabalhar na IPCP – munidos com cinco cartas de recomendação, currículo (modelo POLENTALATTES), atestado de boa conduta (emitido pela cúria diocesana) e cópia da árvore genealógica da família (documentada com fotos e certidões de batismo) – devem apresentar-se na matriz ou em qualquer uma das 15 filiais da empresa localizadas na Terra da Cocanha.

Venha trabalhar conosco: o seu trabalho é a nossa maior realização!
Nane Tamanca
Diretor Geral"
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sábado, 24 de outubro de 2009

A LENDA DA POLENTA

O milharal sob as águas do dilúvio (10°dia)

A LENDA DA POLENTA
Por Joanim Pepperoni, Phd

A Irma Overlock, Radicci e Dom Jerico

No princípio era o milho: erva anual de até três metros de altura, da família das gramíneas, com folhas lanceoladas, espiguetas masculinas em panícula terminal e espiguetas femininas axilares gerando espigas com grãos amarelos (Milhonis granulorum sabuguensis).
E vendo Deus que os grãos eram muito duros para serem triturados por humanos desdentados, pensou por algum tempo e depois agiu: tocou o solo e dele fez brotar um vulcão, cuja lava formou uma imensa elevação basáltica sobre a qual assentou a Terra da Cocanha. E confiando Deus que aquilo que tinha criado era bom, do mesmo material forjou o Nane Tamanca para que aprimorasse a sua criação. E novamente confiando Deus que aquilo que tinha criado era bom, do mesmo magma temperou a Mama, para que fiscalizasse e aconselhasse o Nane em tudo o que pusesse a mão. E, no sétimo dia, confiando Deus que aquilo que tinha criado era realmente bom, decidiu recolher-se às profundezas do céu para descansar.
Porém, nunca mais teve descanso...
Encontrando-se sozinhos no paraíso cocanhês, O Nane e a Mama puseram-se, primeiro, a fazer inúmeros Nanettos para auxiliarem no trabalho e povoarem a Terra da Cocanha. Tudo parecia bem: trabalhavam e agradeciam com hinos e orações tudo aquilo com que Deus os abençoava: o milho, o milho e o milho. Até que um dia, numa longa disputa pela divisão entre dois lotes, Nanetto Cainha assassinou brutalmente o irmão Nanetto Abel.
E pela primeira vez Deus revolveu-se no sono profundo de sua alcova celestial...
Assim, estavam lançadas as malignas sementes da discórdia, da cobiça e do empreendorismo no abençoado solo da Terra da Cocanha. Os filós transformaram-se em reuniões de homens de negócios; os templos foram ricamente adornados com peças de ouro, e a fé encorpou-se com o verniz dos luxuosos encontros sociais; as propriedades ganharam cercas farpadas, e os filhos tiveram que migrar para lugares longínquos em busca de novas cocanhas; o preço do milho inflacionou assustadoramente, e a fome passou a grassar nas ruas e a grasnar nas panelas vazias.
Se Deus, no princípio, tivesse sonhado com tudo isso, não teria criado o milho ou teria inventado logo a polenta...
O Nane Tamanca arvorou-se num deus e, porque havia muitos famintos desdentados na Terra da Cocanha, desenvolveu, com muito engenho e paciência, a nanetecnologia. Mirabolantes máquinas saíram de sua cabeça, para reduzir o milho (Milhonis granulorum sabuguensis) a um pó dourado (Milhonis farinensis): o debulhador de milho, o moedor de sabugos, o pilão manual, o monjolo e o moinho movidos com energia hídrica, entre tantas outras maravilhas reveladas somente aos escolhidos.
O Nane aliou-se a outros Nanes, que monopolizaram a produção do milho e da farinha, e enriqueceram rapidamente. A fome dos trabalhadores era mitigada com pequenas porções de farinha de milho que se ligava pela saliva dentro das bocas famintas, antes de percorrer os deploráveis esôfagos e mofar nos estômagos ulcerados. Enquanto isso, os ricos empreendedores locupletavam-se com mingaus de toda ordem, aos quais adicionavam pinhões e outros guisados tão insípidos quanto a própria farinha seca. Em razão disso, a pelagra disseminava-se em todos os lares, desde os mais ricos até os mais pobres.
E o que Deus viu das alturas foi uma Babilônia de paphlagônios assolados pela demência, pela diarréia e pela dermatite. Foi então que enviou o dilúvio para destruir sua própria criação. Chamou o Nane e deu-lhe as instruções: que abandonasse tudo, construísse uma arca nanetcnológica e se preparasse para o desastre diluviano. Em razão de ter sido o escolhido para aprimorar sua criação, Deus lhe dava uma nova chance para se retratar.
E choveu durante 40 dias e 40 noites. As águas cobriram as montanhas da Terra da Cocanha e tudo o que tinha vida sobre ela veio a perecer. Só sobraram o Nane Tamanca, a Mama e alguns poucos nanettos que estavam dentro da arca. E a Arca de Nane pairou sobre as águas misteriosas e revoltas pela fúria divina, durante longos 150 dias. Após 136 dias, Nane abriu a janela que fizera na arca e soltou um corvo, que ficou voando de um lado para o outro. Depois soltou uma pomba para ver se a água havia baixado, mas a pomba não tendo achado lugar para pousar, retornou para a arca.
Nane esperou mais alguns dias e soltou a pomba novamente. Quando ela retornou trouxe no bico um raminho novo de Milhonis granulorum sabuguensis; Nane entendeu então que as águas tinham baixado. Esperou mais sete dias e soltou a pomba mais uma vez. Desta vez ela não voltou. Então Nane removeu a cobertura da arca, olhou e viu que o solo estava enxuto. Saiu com sua família e retornou ao moinho.
E Deus apareceu a Nane e disse-lhe:
– Nunca mais vou destruir a Terra da Cocanha. Enquanto durar esta Terra, não deixarão de existir sementes de milho e pinhões, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.
Abençoou Deus a Nane e a seus filhos e lhes disse:
– Multiplicai-vos mais uma vez e enchei a Terra da Cocanha.
Famintos e esfarrapados, mas vivos e exultantes com a superação da provação divina, entraram nas ruínas do velho moinho. Em uma tulha arruinada, restava um pouco de farinha encharcada pelas águas diluvianas. Quando levou, tremulamente, a primeira porção à boca, Nane teve uma indescritível surpresa: o guisado de farinha tinha um gosto diferente, mais picante e agradável ao paladar. Era a água do mar que, providencialmente, misturara-se às águas pluviais, invadira a tulha e operara o milagre.
Depois disso, o Nane inventou o fogolare, os caldeirões e as colheres de pau. Surgia, assim, a tão abençoada polenta da Terra da Cocanha (Guisadus farinaceus cocanhensis).
Mas apoderando-se do milagre divino, o Nane Tamanca patenteou-o da mesma forma que todas as suas outras invenções. Logo depois, inventou o turismo e os restaurantes, e passou a vender fatias de polenta aos visitantes como se fossem valiosas barras de ouro do melhor quilate.
E Deus, vendo tudo aquilo, deu as costas, cobriu o rosto com as mãos e ninguém sabe se riu ou chorou...

sábado, 17 de outubro de 2009

AS MIL E UMA UTILIDADES DO SABUGO

O sabugo, fonte de renda.


Queridos leitores:
A reflexão de hoje foi suscitada pela empertigada pergunta de um leitor deste mural, o Sr. Gorgonzolla Netto, também profundo questionador das verdades impostas pelos conglomerados polentônicos, pelos milheiros, pelos sabugueiros e pelos ideólogos da polenta, etchétere et quale... Em razão de a pergunta merecer mais que uma evasiva resposta, decidi fazer uma reflexão teórico-filosófica embasada em dados empíricos e orientada por uma metodologia científica de comprovada eficácia. Logo, não inventarei nenhuma informação, nem me apropriarei indevidamente do conhecimento desenvolvido por meus ilustres colegas pesquisadores. A seguir, respectivamente, a pergunta do Sr. Gorgonzolla e minha admirável resposta:

“Sr. Joanim, já inventaram milho sem sabugo na Terra da Cocanha?”

Caro Sr. Gorgonzolla:
Peço desculpas tanto pela sinceridade quanto pela prolixidade da minha resposta: a nanetecnologia produz maravilhas, mas ainda não faz milagres! Todavia, creio que os cocanheses não têm nenhum interesse em eliminar o sabugo, pelas seguintes e bastantes razões: 1) ele substitui o papel higiênico por ser barato e ecologicamente correto (e possuir uma tripla função...); 2) ele substitui a lenha para aquecer os fogolares em que se prepara a polenta; 3) ele tem grande importância nanindustrial, ao ser usado no lugar do carvão mineral; 4) ele é adicionado à ração dos animais e, sub-repticiamente, aos alimentos humanos, como a farinha integral (um composto de palha, grãos de milho e sabugos), o açúcar mascavo, o café, as salsichas e salames, etchétere et quale...; 5) quando manipulado por mãos criativas, resulta em belíssimas obras de arte, semelhantes às conhecidas esculturas de polenta; 6) na educação dos bambinos, substitui com eficácia pedagógica os bloquinhos de madeira e de polentinha frita; 7) também substitui as rolhas de cortiça em garrafas e garrafões; 8) nos esportes, é utilizado como medalha para os atletas (cada um recebe um sabugo com o tamanho respectivo à posição alcançada); 9) na construção civil, é usado como isolante térmico e acústico; 10) no banho, serve como esponja (bucha) e escova; 11) na estética e na dermatologia, constitui excelente esfoliante; 12) na medicina, torna-se um eficiente desconstipante; 13) durante os períodos de estiagem amorosa, transforma-se em providencial “apetrecho de consolo”; 14) and polent bat no police, cumpre a função primordial de sustentar os grãos, compondo aquilo que todo mundo conhece como "espiga de milho".
Como o Sr. pode ver, Sr. Gorgonzolla, o sabugo está de tal modo entranhado na cultura cocanhesa, que sua eliminação comprometeria seriamente o funcionamento, se não a extinção, desta prodigiosa sociedade.
Afinal, na Terra da Cocanha, quem não tem sabugo não pode ser visconde nem rei!...


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A GUERRA DA POLENTA

Propaganda de guerra elaborada pelos padâneos
Um pesquisador sempre enfrenta muitos obstáculos para localizar e ter acesso às fontes de pesquisa que lhe interessam. Algumas vezes, a obtenção do material só é possível por meio do uso da força bruta, da esperteza e dos violentos embates verbais. Não narrarei aqui as peripécias que envolvem o panfleto acima, mas asseguro que ainda trago nas pernas e nas costas os hematomas dos violentos paus de polenta manejados por dois cocanheses enfezados...
Se há alguns "milharais" de anos houve, de fato, a sanguenta Guerra da Polenta, que ceifou "milharais" de vidas pela posse do território hoje pertencente à Terra da Cocanha, o que se deduz da leitura do panfleto e do cruzamento com outros dados é que essa guerra nunca terminou. Não se trata mais do uso da força bruta (leia-se paus de polenta, socadores de pilão e catapultas de polenta quente), mas de outros artifícios mais esmerados, como a publicidade em diferentes suportes.
O panfleto acima (que me custou semanas de repouso e uma boa dúzia de emplastros de arnica com mel) é uma prova da guerra silenciosa dos cocanheses contra outras comunidades que usam a farinha de milho como base para sua alimentação. Metaforicamente falando, o método consiste em jogar vinagre e pregos no guisado dos outros...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

L'UOMO POLENTUS

O Uomo Polentus com seu pau de polenta
(gravura ainda sem data)

O antepassado mais próximo dos cocanheses é o que denominei, após muitas escavações e análise de material arqueológico por meio de Carbono 14, o "Uomo Polentus".
Pouco se sabe sobre este primitivo habitante dos milharais, mas há indícios fortes de que tenha desaparecido (evoluído?) com o surgimento do monjolo e do pilão.
Sua dieta alimentar em nada diferia da dos cocanheses atuais: o milho em seu último estágio de preparo, ou seja, a polenta.
É muito provável que o "Uomo Polentus" seja o elo perdido (e agora encontrado, graças a minha pesquisa!) na evolução dos cocanheses. A imagem original encontra-se disponível para visitação na Caverna de Pedra, museu construído pela administração de Polentawood para idolatrar a memória dos seus antepassados.
OBS.: Esta pesquisa só foi realizada graças ao apoio financeiro da CAMPES (Coordenadoria de Apoio à Pesquisa sobre o Milho, a Polenta e Similares)

sábado, 26 de setembro de 2009

O MONSTRENGO DA POLENTA

Representação do Sanguanel com um pau de polenta

No Bestiário Cocanhês, figura uma série de monstros, feras e animais fabulosos. Entre os mais conhecidos, estão o Vecchio do Moinho, o L’uomo do Milharal e o Monstrengo da Polenta. Este último também é chamado de Sanguanel e tem hábitos muito peculiares. Costuma sair do seu esconderijo em noites de lua cheia, porque a cor e a forma circular da lua – dizem – lembram-lhe um disco de polenta, abrindo de modo radical o seu apetite.
Há inúmeros relatos em que este monstrengo invade as casas em busca de polenta. Se não a encontra, põe a cozinha do avesso: rasga os sacos de farinha, faz coisas horríveis dentro das panelas e, o que é pior, rouba o pau de mexer a polenta. Dizem, também, que o Sanguanel entra sorrateiramente no quarto das crianças, para lamber-lhes, enquanto dormem, o excesso de polenta em torno da boca e nas mãos...
Por causa das suas maldades, atribuem-lhe as piores desventuras cotidianas: se a polenta queima na chapa, culpa do Sanguanel; se a polenta passa do ponto, culpa do Sanguanel; se a polenta embolota, culpa do Sanguanel; se a farinha caruncha, culpa do Sanguanel.
E para evitar que o monstrengo entre nas casas, os cocanheses, nas noites enluaradas, deixam à porta um avantajado disco de polenta brustolada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A TOMADA DE HOLLYWOOD

Soldados cocanheses efetivando a Tomada de Hollywood

Descendentes diretos da brava estirpe romana, altivos herdeiros da Casa dos Césares, os cocanheses conservam o espírito pujante, guerreiro e conquistador. Meia dúzia de soldados cocanheses é capaz de conquistar um continente inteiro, utilizando apenas a inteligência e alguns rudimentares artefatos bélicos - tal como a terrível catapulta de polenta que arremessa plastas de farinha mole e fervente contra os inimigos, espalhando o horror.
No instantâneo acima, o registro do momento histórico em que esses bárbaros concretizam "A Tomada de Hollywood". Na expansão e imposição do seu domínio, os cocanheses substituem imperiosamente as referências simbólicas antigas por representações da sua própria cultura.
Imagine-se, doravante, o rumo que deverá tomar a Sétima Arte sob os auspícios e a vigilância severa dos cocanheses...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O CHEESE POLENTA

Reprodução fotográfica de um "X Polenta"
Não restam dúvidas que, na Terra da Cocanha, o império da polenta encontra-se no auge. A importação de produtos culturais por parte dos cocanheses não se dá sem critérios de severa filtragem. No caso do "X Polenta", o pão de hambúrguer (originalmente feito com fécula de trigo) foi substituído imaginativamente por duas fatias de polenta brustolada (assadas na grelha).
A minha hispótese enquanto estudioso é a de que a aculturação dos bens materiais exógenos demonstra a profunda preocupação dos nativos em não se fecharem para as novidades advindas do mundo exterior, mas ao mesmo tempo de zelarem pela manutenção dos valores, tradições e hábitos saudáveis construídos ao longo dos séculos.
O Cheese Polenta é uma prova material de que pode haver uma harmonia entre o local e o global, sem que um se sobreponha ao outro ou o exclua (a sobreposição das fatias de polenta, no caso do "X", é inevitável para a composição da iguaria). Parece-me, em última instância, que aqui nada se cria nem se copia: tudo se adapta, se aclimatiza, se recria.