quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O BANCO DE HORAS DO SAUL SULTÃO



Já é sabido que Saul Sultão ampliou seus negócios na Terra da Cocanha com a criação de um Banco de Horas. Trata-se, conforme especialistas no assunto, de um dos maiores empreendimentos de todos os tempos. “Todo mundo precisa de tempo; uns o tem de sobra e outros o tem de menos. E se já foi um dos mais caros problemas filosóficos da modernidade, atualmente o tempo é assunto concreto de gente prática, como o Saul Sultão” – afirma Oídio Maisena, investidor da Vespa do Boi, de São Palha.
O dono do negócio, Saul Sultão, acredita que os cocanheses, por não desperdiçarem tempo, serão os melhores correntistas do Banco de Horas. “O povo daqui não gasta tempo debalde, é tudo no conta-gotas. E o Banco aposta no tempo que os cocanheses guardam embaixo de colchões de palha. Afinal, time is fiorim” – arremata o empreendedor.
A seguir, apresentamos detalhes dos principais investimentos disponíveis aos correntistas do Banco de Horas:


AMPULHETA: tipo de investimento que, vira e mexe, não rende nada. Indicado apenas como forma de transição àqueles correntistas que sempre guardaram tempo debaixo dos colchões.

RELÓGIO D’ÁGUA: oferece rendimentos, até certa medida, estáveis e contínuos, como o fluxo de alguns rios. Mas, porque o Banco utiliza a água do rio Tegão para ativar as azenhas, há sempre o risco de ele ser drenado para outros fins. Aí, é prejuízo na certa.

RELÓGIO DE SOL: investimento também muito ruim, porque não rende à noite, nem em dias chuvosos, nublados ou com cerração. E há também a ameaça iminente da fumaça dos fogolares e do vulcão Poletna.


RELÓGIO ATÔMICO: à base de Césio Fiat 147, este investimento é o mais seguro de todos, porque pode levar até 14.000.000 de anos para o correntista perder um mero segundo. Mas, por não ser a tentação mais barata, é certo que os cocanhese resistam a ela.

RELÓGIO CUCO: investimento ideal para criadores e caçadores de perdizes, cucos, azulões, sabiás e outras aves. A médio e curto prazos, ótimo para engorda de cucos para a ceia de natal. O correntista deve apenas tomar cuidado com espingardas de chumbinho, boleadeiras, arapucas e visgos dos outros concorrentistas.


RELÓGIO BIOLÓGICO: verdadeira aposta a longo prazo para quem vai viver mais de 100 anos (como os vechianopolenses). O problema é o resgate do investimento, que só pode ser feito após a morte do correntista. Trata-se, em suma, de uma espécie de seguro funeral.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ORAÇÕES À POLENTA

Polenta Nossa
Polenta nossa, que da boca estais no céu,
santificada sejas, Mata-fome,
venha o Vosso reino ao nosso abdôme,
sejas feita em grande quantidade,
aqui na Serra como um troféu.
A fome de cada dia matai hoje,
e saciai-nos a nossa gula,
(assim como nunca saciamos com o que temos cozido)
e não nos deixeis cair em constipação,
nem livrai-nos do sal.
Amém!


Ave Polenta
Ave Polenta, cheia de molho, o sabor é Convosco.
Bendita sois Vós entre os manjares
e bendito é o fruto do Vosso ventre: Cuscuz.
Santa Polenta, Mãe dos Pobres, fritai por nós, comedores,
agora e na hora da nossa fome.
Amém!






terça-feira, 13 de setembro de 2011

POEMA CAÇA-PALAVRAS Nº4

Na era Pós-sabugo, manifesto é 'perca' de tempo. Valem ouro as receitas da Nona, o rítmico preparo dos guisados farináceos e a habilidade estóica com as méscolas. Vale ouro o pó subtraído dos grãos com a sova dos monjolos e pilões. Estilo individual é coisa passadista, porque polenta é: cópia da cópia copiada da cópia. A receita vem na veia, é genética, capichi?

Encher a boca com farinha e exclamar repetidas vezes: "farinha", "farinha", "farinha"!... Eis o desafio. Néscio é quem cria, fica rico quem copia. Pegue o pombo!


Poema sem manifesto é receita: polenta!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

POEMA CAÇA-PALAVRAS Nº3

Na era Pós-sabugo, a fome na Terra da Cocanha caiu pela metade (dados do último non-sense). Mas salvaguardou-se pelas gerações a Arte de preparar a polenta - guisado farináceo com que se aquilatam filós e se celebra a fome atávica. A ritualização da fome, a sacralização da receita! A hóstia de polenta! O gesto imutável de operar a méscola como obrigação escolar, a repetição dos movimentos ritmados e o cantarolar de La bella polenta! Um bambino desbafa: "- Antes uma méscola na panela, que uma mescolada nos dedos..."

A poesia da era Pós-sabugo pode ser cozida ou brustolada, fruída com queijo ou molho de perdizes. A matéria-prima dessa poesia (chamem-na Poema Caça-palavras) vem da terra, escapa do caruncho, passa pelo monjolo, cai na panela e ganha forma com água quente e sal de cozinha. Não há manifestos, há receita! Ei-la, a cópia da cópia:

Criação seriada do mestre Joanim Pepperoni.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

POEMA CAÇA-PALAVRAS Nº 2


Na era Pós-sabugo, a Arte fugiu dos museus, exilou-se nas cozinhas, foi incrustar-se na gordura das panelas... Um mestre-cozinha chega ao clímax com o ritmado tchá-tchá-pum! da méscola no guisado farináceo: “Polenta com latte engrossa le culate” – admitem rechonchudas ativistas do movimento cocanhês Polenta com Pissacán.
“Gestão de palavras” é a palavra de ordem do lirismo globalizado e do novo Poema Caça-palavras. Eis a cópia do original:



O Poema Caça-palavras: produção seriada altamente econômica

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O POEMA CAÇA-PALAVRAS


Na era Pós-sabugo, a Arte despiu-se da palha sisuda e áspera, passando a ser produzida com farinha de milho e massinha de modelar... Para que o leitor frua um inesquecível momento gastronômico e experimente a estética do ludismo transgênico, publico a seguir o primeiro exemplar de um novo gênero literário: o Poema Caça-palavras.


O Poema Caça-palavras (inventado por Joanim Pepperoni, PhD)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

ANAGRAMA FUTURISTA COM MILHO EM PÓ


Anagrama futurista com milho em pó, misturado à água e bem mexido com colher de pau durante a fervura (inspirado no mestre-cozinha Marionetti):

atnelop
aptonel
apnelto
aneltop
anoltep
alonpte

lotenpa

etnolpa
etnalpo
elnotpa
etnalop
etnolap
elatnop

letnapo

oleptan
optalne
otnelpa
otalnep
otnalpe
otanpel

lepotan

neptola
nelopta
neptalo
naptela
nolapte
naptole

laponte

tanpole
tanlepo
tenpalo
tenpola
tonpela
tonpale

lepanto

potanle
pelotan
petonla
patonle
pontale
pantole

polenta



segunda-feira, 2 de maio de 2011

A PEDRA DO GÊNESIS





Nada pode ser mais gratificante para um pesquisador, do que fazer grandes avanços em sua área de investigação. Como antropolentólogo, já fiz gigantescas descobertas que mudaram não o habitus (que este é praticamente imutável nos cocanheses), mas a perspectiva histórica da Terra da Cocanha. Lendas, mitos e mentiras foram desenterrados por estas mãos experientes e calejadas de manejar entulhos, pergaminhos e outras tranqueiras. Foi assim, por exemplo, com o L’uomo Polentus, o Elo Perdido da civilização cocanhesa (http://aterradacocanha.blogspot.com/2009/09/luomu-polentus.html), e agora com a Pedra do Gênesis – o Alphastone da Terra da Cocanha.


Minha mais nova descoberta trouxe à superfície a pedra de moinho mais antiga da Terra da Cocanha, forjada pelos primeiros cocanheses e instalada no primeiro moinho erguido na localidade de Novo Milhano, periferia de Polentawood. Com um peso aproximado de 200 quilos cúbicos, a Pedra do Gênesis é feita de diamante fosco, o mineral mais duro e resistente do universo. Segundo estatísticas do Centro de Pesquisas sobre Nanetecnologia, a Pedra do Gênesis já existia há trilhões de anos e estava apenas à espera de um povo tenaz, capaz de subjugá-la e torná-la útil aos seus rígidos desígnios. Sobre ela e com ela foi forjada a Terra da Cocanha, esta terra exótica e estranha equilibrada no alto de uma montanha de farinha.


A seguir, dois instantâneos inéditos da Pedra do Gênesis, também conhecida pelo monossílabo “mó”: no primeiro, pode-se vê-la no local em que foi encontrada durante a escavação; no segundo, já exposta no museu Caverna de Pedra, para visitação dos turistas.






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segunda-feira, 25 de abril de 2011

PIPOCA DE MILHO COM PÓLVORA

O twitter, pobre vítima da pipoca-bomba


Se a polenta na Terra da Cocanha é a mais cara do mundo, também a Ciência cobra um preço muito alto de quem a ela se dedica. Particularmente, como pesquisador PhD, tenho sofrido enxovalhos, perseguições, maledicências, emboscadas, incompreensões de toda ordem. Ao divulgar o dia-a-dia deste Paese Stranhi no Polentwitter, leitores têm me perseguido e me acusado de usar entorpecentes ou de estar sequelado, tamanho o absurdo dos fatos que, pela premência do juramento que faço toda vez que recebo um sabugo ou pendão acadêmico, sou obrigado a tornar públicos.
No entanto, o meu compromisso é com a transparência dos acontecimentos. Não costumo agir como certos polentwitteiros que, ao invés de perseguirem abertamente seus desafetos, ficam de tocaia com uma méscola, uma mão de pilão ou uma infâmia na ponta da língua necrosada pela pelagra! Parece que estão caçando passarinhos... Eu sou cidadão de bons antecedentes, cientista premiado, único detentor do Nobel de Polentwittologia! Eu e minha equipe de bravos pesquisadores é que temos colocado em ordem correta a história desta civilização de amarelados, sem mitificações, sem distorções e sem outro propósito, senão o da Verdade Absoluta!.
E os fatos que narro a seguir são tão surreais, que a canalha de invejosos dirá por aí que eu os inventei. Se eles têm a verdade deles, aconselho que a guardem para si, porque eu tenho a minha e sempre vou torná-la pública, nem que isso me custe algumas bandagens!

Como os leitores já sabem, o Nane Tamanca é mais esperto que uma raposa morta. Tão mais esperto, que até já inventou uma máquina de ensacar berros de porco... E ele sempre se supera com novas invenções, como esta em que achou uma forma de não pôr no lixo uma safra de milho.
O caso é o seguinte: durante uma semana inteira, em que ficou de tocaia para caçar a cegonha que traria o vigésimo filho do seu vizinho, o Nane descuidou do paiol, e os carunchos acabaram tomando conta das tulhas de milho.

Como a cegonha não veio e ainda tinha muita pólvora branca guardada numa barrica, decidiu usá-la com astúcia para minimizar sua calamidade. Preencheu todos os buracos nos grãos e passou a comercializá-los como pipoca para estourar na chapa do fogolar. A moda pegou, principalmente entre os bambinos, que adoram estourar bombinhas em formigueiros e ninhos de tico-tico. Outro produto, dirigido a caçadores profissionais, são os grãos de milho com pavio, cujo modo de uso é tão cruel, que não pode ser descrito (mas vide imagem supra). E um terceiro produto são os chumbinhos Diamilhô, uma variante dos cruéis Diabolô, para espingardinhas de pressão. Além de perfurarem o alvo, ainda explodem com o impacto, feito minibalas de canhão.


Os fatos provam, em suma, que louco é quem põe sal em polenta que será servida a loucos!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

TECNANEPÉDIA PARTE SECONDA


Pão-drive com design típico cocanhês: milho-drive



O constipado pesquisador Christophoro Capeletti, PhD-PhD, contribui com suas mais recentes descobertas lexicais nanetecnologicas. Suas escavações em patentes da praça Dantes Pen'agora engordam o conhecimento antropolentológico cocanhês e contribuem para a conservação da memória coletiva a ser idolatrada pelas gerações presentes e vindouras. Entre os objetos despatenteados, que ainda não podem ser expostos na íntegra ao nosso público leitor, aparecem nomeados:


Ai-pe-de-milho: estrumento que serve para capinar na intermilho, fabricado pela Apple - Ai Pim Prodotti per Lograre Estupidi.

Ai-fome: mistura de Sabular com vale-polenta, fabricado pela Ai Pim Prodotti per Lograre Estupidi.

Mescol'toche: milhocomputador que ninguém consegue operar, também fabricado pela Ai Pim Prodotti per Lograre Estupidi.

Mesc-Bugo: Mescol'toche em proporções reduzidas (naneiforme).

MP4 (Milho Pendonis Fourth Generation): equipamento de som que imita zumbido de abelha em pendão de milho.


Nota: em breve, todos os objetos serão expostos ao público, extraordinariamente com entrada franca nas catracas.


sábado, 9 de abril de 2011

PEGUE O TWITTER, SOLTE O TWITTER

Uma twíttima do Tamanca


A fome atávica do Nane Tamanca atinge as raias do ridículo. Depois de caçar todos os passarinhos da Terra da Cocanha, ele abriu uma centena de contas no Polentwitter para pegar o passarinho azul. Esse tipo de caça é inédito no mundo e ainda não existe legislação que proteja as pobres aves cibernéticas.



Outra twíttima do Tamanca


Embora as autoridades ambientais ainda não saibam como proceder, é provável que o Nane seja processado por caça e cativeiro de imagens de aves virtuais. Se condenado, terá que libertar todos os twitters encarcerados e ainda chocar uma ninhada de ovos azuis.

terça-feira, 1 de março de 2011

A EVOLUÇÃO DOS STUZZICADENTTI


Como todos devem estar lembrados, os atuais mescolitos surgiram de uma briga na cuccina entre o Nono e a Nona, durante a confecção da sacrossanta polenta. Mas, muito rudimentares, eles foram, aos poucos, aperfeiçoados pela Nanetecnologia, transformando-se na pedra de toque da indústria da profilaxia dental.
Descrevemos, a seguir, alguns prodígios operados neste setor que, ao lado dos farináceos, gera empregos e renda para muitas famílias cocanhesas:


1) Stuzzicadentti Ombrella: trata-se de um palito equipado com minúsculo guarda-chuva em uma das extremidades e que dá privacidade ao usuário na hora de subtrair os restos mortais da perdiz ingerida. A Stuzzi Ombrella é ideal para refeições ao ar livre, como filós na Via del Milho, passarinhadas na praça Dantes Penagora etc. O material usado na confecção da haste, o pau-de-milho-ferro, é integralmente importado da Paphlagônia e tem garantia de 200 anos contra desgaste ou quebra. 100 % reutilizável!

2) Stuzzicadentti Sagitta: trata-se de um produto elaborado por pedanonas cocanhesas para tornar a profilaxia dental dos bambini mais lúdica. Para o uso são necessarias duas crianças: uma delas opera a catapulta com o palito, e a outra expõe os dentes. Embora duramente criticado por pediatras, enfermeiras, ophtalmologistas e fabricantes concorrentes (a falta de pontaria pode trazer danos visuais irreparáveis, argumentam), o uso do Stuzzi Sagitta diminuiu consideravelmente os casos de cárie dental em crianças de 2 a 9 anos.




3) Stuzzicadentti Penna: este produto é de uso exclusivo em escolas, universidades, bibliotecas e escritórios. Após o filanche, o usuário discretamente põe a Stuzzi Penna na boca e elimina as sobras perdigais prensadas entre os dentes. Leve e prática, pode ser levada no bolso, eliminando o mau costume de se carregarem palitos atrás das orelhas. Todavia, deve-se evitar a compra do produto em bancas de camilhôs ou no mercado dos carunchos, porque a Stuzzi Penna foi clonada pela concorrência e, ao ser acionada, pode emitir um choque elétrico de alta voltagem, eletrocutando o usuário (Penna-tchoca).


4) Stuzzicadentti Porcospino Sapore di Limone: este produto consiste em um limão com diversos palitos espetados ao longo de sua circunferência. Exposto sobre as mesas durante os filós, transformou-se em mero objeto de decoração, porque os atuais cocanheses desconhecem sua finalidade. Conta-se que o Nane Tamanca, certa vez, com sua curiosidade nativa, resolveu atribuir utilidade ao SPSL: meteu-o inteiro na boca e foi levado às pressas ao pronto-socorro. "- Porcospino! Porcospino! Porcospino!"




sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ALTO-RETRATO DE NANE TAMANCA


ALTO-RETRATO
Caderno (Porca)MaDonna!
Jornal O Polenteiro – Terra da Cocanha
(Com cópia na edição deste domingo do Prima Hora)
Joanim Pepperoni, PhD, entrevista Nane Tamanca

1. Qual sua lembrança de infância mais remota?
A Mama molhando a chupeta no molho de perdizes e contando histórias dos antepassados, do Sanguanel, do L’uomo Polentus e do Vechio do Milharal.

2. Qual seu maior ídolo na adolescência?
A Madonna e a Caspicciolina.

3. Onde passou suas férias inesquecíveis?
Num chalé na orla do Tegão. Tinha pilão, monjolo, arapucas, moinho... Mas o inesquecível foram os passeios de gôndola pelas doces águas do Tegão, a paisagem ribeirinha repleta de hortas de radicci e milharais. Tudo incrivelmente verde e produtivo!

4. Qual sua ideia de um domingo perfeito?
Acordar os galos, revistar as arapucas no Parque dos Miquinhos, ir à missa, almoçar na casa da Nona (que faz uma polenta divina), tirar uma sesta, jogar bocha ou baralho, ir ao estádio do Polentude e vê-lo derrotar o S.E.R. Colono. Se sobrar tempo, ir pescar no Tegão ou quebrar milho ou ainda exercitar o braço no pilão.

5. O que você faz para espantar a tristeza?
Geralmente procuro rir por conta própria ou contar piadas - que aqui na Terra da Cocanha ninguém entende (geralmente só se ri da desgraça do vizinho), porque a ambiguidade é confundida com a umbiguidade pessoal e aí sempre dá briga. Tristeza se espanta filando o almoço na casa de alguém, bestemando ou trabalhando.

6. Que som acalma você?
O som do pilão, do monjolo ou das mós do moinho. Um outro som que me apazigua a alma é o da méscola mexendo ritmadamente o guisado de água, sal e farinha de milho, com a polenta enfim se desgrudando do fundo da panela. Quando estou com fome, fico muito nervoso.

7. O que dispara seu lado consumista?
Quase nada. Mas há alguns dias cometi uma luxúria: ouvi falar do novo Stuzzicadenti (o méscolito) e fui correndo na loja do Giannini barganhar o preço com o vendedor.

8. Qual a palavra mais bonita do idioma Polentalião?
Polenta-com-pissacàn-fiorim-lavoro-porco-dio-e-porca-madonna.

9. Que livro você mais cita?
O livro de receitas da minha Nona e o Manual de Operações do Monjolo importado da USA.

10. Que filme você sempre quer rever?
O épico “A guerra da polenta”, do diretor Rossellini Antonioni De Sica Pasolini Fellini, com os atores Marmelo Mastromilho e Caspicciolina.

11. Que música não sai da sua cabeça?
O clássico “La bella polenta”, interpretado por The Rolling Spigas.

12. Um gosto inusitado.
Polenta com molho de mortadela.

13. Um hábito de que você não abre mão.
Filar o almoço na casa da Nona aos domingos e andar com o Chevette na banguela pra economizar gasolina.

14. Um hábito de que você quer se libertar.
Em noites de lua cheia, colocar um disco de polenta na soleira da porta para o Sanguanel não invadir a cozinha e quebrar tudo. Puro desperdício!

15. Um elogio inesquecível.
Quando Saul Sultão me disse que eu tinha nascido pra bater pilão. Aquilo me emocionou muito...

16. Em que situação vale a pena mentir?
Especialmente quando se está fazendo uma negociação.

17. Em que situação você perde a elegância?
Quando tenho que sair de casa, ir à missa, por exemplo, sem as minhas tamancas ou botinas.

18. Em que outra profissão consegue se imaginar?
Em qualquer uma, pois um bom cocanhês mexe com qualquer coisa.

19. O que você estará fazendo daqui a dez anos?
Sessenta anos de idade.

20. Eu sou...
... o Nane Tamanca: tenho dupla cidadania (cocanhesa e paphlagônica) e bastante dinheiro guardado na poupança; sou pai de 18 filhos e meio, dono de um moinho com 1000 empregados, pago a anuidade da igreja em dia, tenho uma tulha permanente na Festa da Saúva, sou sócio do Polentary local... Precisa citar tudo? (risos)



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A TECNOLOGIA DO STUZZICADENTI

Que os cocanheses (nativos da Terra da Cocanha) obram milagres na Nanetecnologia é fato alargado no mundo inteiro. Entre incontáveis maravilhas já catalogadas por nossos pesquisadores, relatamos hoje a invenção do Palito de Dentes Nanetech, que se operou, segundo uns, por fruto do acaso, mas, conforme outros, por providência divina.
O primeiro palito de dentes da história da humanidade foi usado pelos ancestrais paphlagônios que habitavam as escuras cavernas da costa do Mediterrâneo, ainda antes da descoberta do fogo. Esses cavernídeos utilizavam garras de animais, espinhaços de peixes, pêlos de porcos e outros objetos pontiagudos para extrair as sobras de carne de perdiz alojadas entre os dentes, porque a etiqueta primitiva já proibia que se fizessem ruidosos movimentos de sucção (schhiiisch!... ou pfi!pfi!pfi!...).
Na Era della Pietra Lascata, os artesãos paphlagônios tentavam lascar pedras, para que ganhassem a forma de gravetos que pudessem ser usados na profilaxia dental. Na Era della Pietra Polita, as lascas de pedra eram cuidadosamente lixadas, mas a relação custo + tempo + benefício tornava inviável o uso dos “pedritos” como dentifrício interdental (os dentes apodreciam e caíam antes mesmo que alguém pudesse assenhorar-se de um “pedrito”). Conhecida, em razão disso, como “Civilização dos Banguelas”, os paphlagônios desenvolveram o mingauzinho de polenta, cujo consumo não exigia uso dos dentes (além de que todas as espécies ovíparas já haviam sido extintas).
Com a migração em massa dos paphlagônios para a Terra da Cocanha, na Era dos Milhonis Granulorum Moídos nel Piloni et Mangiatto cun Molhus de Perdigonis, teve início a até hoje reconhecida pesquisa científica para o desenvolvimento dos palitos de dentes. A abundância de aves silvestres na dieta cocanhesa exigia uma tecnologia para limpeza dental.
Os palitos pioneiros vinham em forma de rústico graveto pontiagudo acoplado no cabo da méscola de mexer polenta e era de uso coletivo, começando pelo patriarca e terminando nos bambini (as mulheres não tinham direito a “espalitar” os dentes). Operação excessivamente demorada, os nanetecnólogos tentaram então desenvolver “méscolitos” individuais, um investimento de saída malfadado, porque a tradição econômica cocanhesa não suportava tais luxos materiais.
É provável que neste ponto dos acontecimentos termine a História e comecem as especulações míticas. Conta-se que os palitos individualizados foram descobertos pela Nona do Nane Tamanca, mas coube a este último a sua produção e comercialização em larga escala. Depois de espatifar a méscola na cabeça do Nono, que safadamente ergueu a saia da Nona enquanto esta mourejava na panela de polenta, inúmeros gravetos foram encontrados no guisado polentáceo durante o filó noturno.
Deslumbrado, o Nane Tamanca patenteou a descoberta e passou a quebrar méscolas para fabricar os tais “méscolitos” de segunda geração. O problema maior residia na contratação de funcionários dispostos a dar sua cabeça às pancadas (da Nona, obviamente, pois só ela conhecia a técnica da batida certeira), além de que o Sindicato Comunista exigia indenizações milionárias para operários com traumatismo craniano. Essa técnica de produção nanefiatiana teve vida curta, mas contribuiu para a pesquisa do palito de dentes e foi definitiva para a fixação de um novo e apreciado ditado cocanhês: “Cada cabeça uma méscola!”