segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A FIXAÇÃO ARQUITETÔNICA

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"Caro Dr. Joanim,

No último dia 21/11, antropoambulando pela região cocanhesa do rio do Prato (antigamente chamado rio do Prato de Polenta), descobri mais um típico cocanhismo arquitetônico.
Estava eu cumprindo meu trabalho de antropolentólogo na província de Novo Prato (ex-Cidade do Prato de Polenta), quando, em meio a uns e outros milharais, deparei-me com a construção abaixo [supra], que deixou-me deveras assombrado, pois pensei incontinenti tratar-se de resquício de alguma civilização pré-extermínio das perdizes, quiçá pré-paphalgônica. Tal descoberta, já pensava eu com meus grãos de milho, poria em xeque toda histomilhografia da Terra da Cocanha. Seriam os cocanheses um povo autóctone, que se apropriou de, ou a quem foi imposta uma cultura imigrante? Seria a polenta uma iguaria da época das cavernas? Seriam os cocanheses astronautas?
Pois tratava-se de um moinho! Um moinho em perfeito estado de apodrecimento, com no mínimo duzentos anos de instalação, movido a água (uma azenha, portanto), e recém-superado pelo incansável ritmo de avanço da nanetecnologia, tanto que estava abandonado.
Atarantado e a fim de obter informações pormenorizadas sobre aquela descoberta que ultrapassava a importância antropolentológica, que chegava às raias da arqueopolentologia, fui ao encontro do proprietário daquela débil porção de terra montanhosa e basáltica, o que não me consumiu mais do que dez minutos barranco acima: logo encontrei um legítimo exemplar do espécimen Nane Tamanca. Travando cuidadoso diálogo, procurando ganhar sua confiança mediante emprego de blasfêmias e de palavras do dialeto cocanhês em bom tom de voz, fui aos poucos entendendo a sagacidade arquetípica dos empreendedores cocanheses.
É certo que poderia ter entendido antes, não fosse a empolgação que invadiu meu espírito diante da exótica construção, quando não percebi que alguns polenturistas fotografavam-se em frente ao moinho, fazendo poses de arqueólogos deslumbrados. Depois me dei conta do que aquele Nane tentava inútil e grosseiramente me explicar: na verdade, o moinho era novinho em folha (!), tendo recebido ares de antiguidade justamente para atrair a atenção de otários como eu e como aqueles estrangeiros que lá se retratavam. A propriedade do vizinho, descobri, abrigava um hotel que tentava reproduzir em seu interior o que, segundo eles mesmos, havia na Paphlagônia perdida, e o Nane dono da azenha não perdeu tempo: ergueu seu pequeno monumento a um passado suposto, para não dizer desconhecido, e agora agencia, em parceria com o hotel, visitas guiadas (e muito bem pagas!) ao local...
Veja a imagem no saco do e-milho.

Uno saluto,
Dr. Christophoro Capeletti, PhD
Direto da Província de Novo Prato"

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