quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O SANCTUS COR POLENTARUM

Cópia mimilhografa do original do "Sanctus Cor Polentarum"

Publicamos a seguir a tradução de um documento inédito, desenterrado e traduzido por nosso bravo colega, o Dr. Septimo Reprobo Papastrel, que se encontra atualmente escavando um sítio arquipolentológico nas cercanias do Além-tegão:

"Após acirrada investigação, deparei-me com uma achado mantido sob vigilância constante pelos atentos olhares dos curas cocanheses: o Sanctus Cor Polentarum.
Livro de cunho teogônico, sapiencial e profético, o Sagrado Coração da Polenta é mantido apenas ao alcance da mais alta e capacitada estirpe teologal, a qual manuseia a obra num rito singular: Arquimandritas, Presbíteros e Monsenhores, durante o culto, postam-se de costas aos fervorosos sectários e lêem o Sanctus, conclamando a massa a entoar frases de pia concordância.
Transcrevo a seguir alguns trechos do primeiro livro do Sanctus, de grande valor teogônico e histórico. Ressalte-se que se trata de tradução rudimentar, uma vez que o manuscrito original apresenta termos do polentim vulgar imiscuídos de expressões diamilhetais (as partes entre cochetes devem ser entoadas coletivamente no culto).

Alguns versículi do Cap.5 - perícope "Sois uno povo"

3. e do milho de Paphlagonia colhidos, fostes semente lançadas à nova terra.
[pela graça do Signore]

7. como as gentes de Nane, os filhos de Bepi e os parentes de Gigio
[somos todos grãos da mesma espiga]

38. Por quarenta meses longa travessia sobre as águas liderou Nane, das naus o piloto.

41. e para não padecerem da fome e escorbuto, o Signore mandou codornizes e laranzas-do-céu.
[e fez-se a passarinhada]


Versículi do cap. 3 - perícope "Tomai posse, ó cocanheses"

2. As pias gentes na nova terra chegando encontraram soberba raça de gigantes opulentos, reis das pinhas, da grei das Araucárias, da famiglia do Mato.

4. Feroz batalha seguiu: santos machados de ferro fendiam os gigantes, que oprimiam os filhos de Nane com cruéis bochadas vindas de seus mil braços

12. Longo baracón erguido, empoleirados como felizes pombas, as gentes de Nane, Gigio e Luchiano louvavam seus potentes machados.
E tal orgulho desagradou o Signore e fez-se fome entre as gentes cocanhesas.


Versículi do cap.4 - perícope "O sonho d'oro de Joanin Coloni"

1. E sucedeu que nos dias da fome, quando acabadas estavam todas as aves,
veio um sonho a Joanin Coloni

6. e Coloni, dando graças a dio, colheu a espiga

17. e as espigas de Coloni tinham 2 côvados de altura

20. e Ubertini, sumo-sacerdote dos filhos de Cristóforo, abençoou o pau da polenta e a caçarola de Coloni

25. e havendo semeado e colhido e moído o bem-aventurado milho, Joanin o ferveu nas águas lustrais e o Polentum esteve com ele
[e ele está no meio de nós]

Nota: E aqui termina o que nos foi possível conhecer do Sanctus Cor Polentarum."

3 comentários:

  1. "...gigantes que oprimiam os filhos de Nane com cruéis bochadas vindas de seus mil braços..."

    Brilhante metáfora que demonstra claramente que o texto é, de fato, de origem divina.

    Gostaria de conhecer detalhes do ritual, como por exemplo, se é permitida a livre interpretação dos versos ou se estes são traduzidos de forma mais simples pelo ministrante para facilitar a compreensão por parte dos cocanheses.

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  2. O texto do honorável Dr. Papastrel parece claro em sua exposição, ao afirmar que "Arquimandritas, Presbíteros e Monsenhores, durante o culto, postam-se de costas aos fervorosos sectários e lêem o Sanctus, conclamando a massa a entoar frases de pia concordância".
    Daí que, na minha opinião particular e conhecendo bem o ethos cocanhês, o Santo Coração da Polenta é interpretado ao pé-do-pilão mesmo, com diques bem altos para que o peixes não fujam do rio. Qual um monjolo que bate sempre no mesmo ritmo catatônico, o rito segue feito água mole em pedra dura...

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  3. O Sr. Papastrel fez um brilhante estudo antropolentológico; no entanto, sinto qualquer ponta de ateísmo no seu discurso. Seria possível tamanho distanciamento a um pesquisador inserido nos ritos diários cocanheses?
    Caso sim, os antropolentólogos Cláudio Lévi-Strapalha e Cláudio Lévi-Strabugo invejá-lo-iam, Sr. Papastrel.
    Belíssimo estudo!
    Gargalliazzo Polentoni, PhD

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